segunda-feira, dezembro 22, 2003

Máquina de Guerra

Parece que ainda ha pouco te via Avô, com aquele teu jeito possante, sempre desenrascado, nada te fazia vacilar.... De uma energia tal, que a todos contagiavas....

Hoje, em mais um, de muitos, almoços de familia que ao longo dos anos tivemos, tambem eu la estive, com aquela sensação de "podia estar noutro sitio", mas....
Hoje foi diferente, estavas diferente, hoje vi e senti aquilo que há ja muito tu mostras, e eu simplesmente nao reparei ou nao quis reparar . É como se o tempo me tivesse contornado, e eu egoista nem notei, mas em ti esse mesmo tempo, anos que viajaram a velocidade da luz, colidira contigo, e deixou em ti marcas da sua crueldade.
Em lugar daquela máquina de guerra que conheci no passado, agora estas tu, aquele para com quem o tempo não soube ser brando, um ser mais débil, um ser nãoo tão forte, ja não és a máquina que conheci... No lugar daquele rosto duro e invencivel, agora jaz outro mais frágil, mais dócil, mais indefeso. Os teus conselhos sempre foram dádivas de vida, sempre te ouvi o melhor que pude e o melhor que sabia. Hoje voltaste a falar-me... Seguraste o meu braço para me reconheceres, pois a tua vista ja pouco te ajuda, tudo parece falhar, menos a tua alma, que apesar de mais calejada continua acesa embora mais resignada... Apenas me disseste duas coisas : "...faz por ser bom moço e acima de tudo SÊ FELIZ..."

As lágrimas pareciam querer saltar dos meus olhos, era como se me estivesses a dizer, que se calhar para o ano ja ali não estarias, que viveste a tua vida o melhor que podias, que deste aos teus o melhor que conseguiste e que agora me estavas a passar a estafeta e a dizer "....rapaz agora batalhas sem mim..."
Sensação estranha, apesar de com a Graça de Deus, ainda ca estares, num ultimo esforço tentas nos preparar a todos para a tua partida...

Sinto que passou o tempo e não o soube aproveitar, frustrado de não ter estado mais contigo, estou triste, todos estes anos e a ampulheta nunca parou, so eu nao vi. Quero-te por aqui por muitos mais anos.

Sem mais te dei um abraço, ca dentro prometi que para sempre seguiria o teu conselho, e me despedi...com um ate logo.
Nunca mais vou usar um até a proxima, nao quero que te sintas só, eu estou por perto, nos todos estamos por perto.


Todos te amamos
E todos te queremos bem...
Haverão mais almoços, mais natais, mais anos em que te quero ouvir e receber de ti toda a sabedoria que irradias.

Não partas nunca mais, "velha" máquina de guerra...

B R

0 ComentÁRIOS:

Enviar um comentário

<< Home