sexta-feira, abril 23, 2004

Peça de Barro

Os dias sobrepõem-se penosamente
Em camadas de entulho humano.
Despojos do meu ser que se me apartam e petrificam…

Reparo no sujeito do vidro,
Uma sombra do que já foi.
O tempo que passou sem se ver,
Dia após dia, noite após noite.
Sonho após sonho…
Olho-me com desprezo, questiono-me:
Quem sou?
Quem é este personagem em que vivo?
Que é este vil ser que me tornei?
Não me reconheço…
Moldaste-me como barro,
Recriaste-me numa peça à tua imagem,
E eu parvo e cego, nem reparei,
Pouco importava desde que tu o quisesses assim.
Agora vejo que de nada valeu,
Agora vejo na escuridão sem fim,
O vazio, o nada, e tudo mais que se perdeu…
Esta peça que criaste está agora abandonada,
Esquecida na prateleira dos teus “projectos falhados”
Bem perto do “não tive coragem, não arrisquei”.

Os dias sobrepõem-se penosamente
Em camadas de entulho humano...

Adeus artesã,
Adeus meu um dia Anjo com nome de flor.

BR

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