quarta-feira, março 31, 2004

Ironia da Calçada

Desço a calçada , estou exausto,
Não sinto o corpo, a cabeça está pesada.
As suaves gotas de chuva precipitam-se lá do alto
E embatem com estrondo na minha face.
Também o céu chora, acompanha-me em triste marcha.
Oiço vozes, que se aproximam…
Acelero o passo, hoje não estou para ninguém.
Mas… Deparo-me com uma figura estranha,
Sujeito vagabundo, de longas barbas, olhos pequenos,
Face rosada, vestido com roupas que a ninguém vestiam.
Olhou-me fixamente e perguntou:
“Porque chora o céu ?”
Sem mais que lhe diga ousei responder:
“Chora comigo a ausência das estrelas, da minha estrela…”
O sujeito pareceu compreender o que lhe dissera,
Agora que penso acho que ele leu os meus pensamentos,
Sem mais retomou o seu caminho,
e como que contente com a resposta olhou-me uma vez mais e:
“Ainda bem, pensei que chorava a minha triste vida…”
Seguiu viagem sem destino aparente.
Parei por momentos e olhei o céu,
Cá dentro a ressonância de um pensamento:
“…porque choro se sei que voltarás, se sei que te amo,
…. Porque choro eu sem direito, se me comparo ao pobre que
agora desaparecera por entre as gotas de chuva que me lavam a face?”

Segui o meu caminho.
Irónico é o destino
Quando nos faz pensar…

BR

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