quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Pequeno sábio

O Pequeno jogava a bola
Do outro lado da rua,
com perícia de mestre
contornava adversários invisíveis.
O Pequeno brincava, cantava, sorria
Sozinho inventava multidões,
personagens da sua fantasia,
Amigos intergaláticos que só ele podia ver...
Sem pressas, sem muito pensar
A contraste de todos os que por ele passavam...
Parei e observei durante uns minutos,
Algo nele me era familiar,
Lembrara-me um miúdo que conheci,
Lembrava-me o miúdo que já fui.

De inocência malandra estampada no rosto,
aproximou-se...
"Queres jogar?"
Apesar de atrasado não declinei,
Jogamos durante horas,
também eu era agora um miúdo
sem pressas, sem muito pensar...
Por fim confessei que há muito não me sentia assim
Solto, leve, inocentemente feliz...
O pequeno olhou-me e sorriu,
Apenas me disse:
"Porque passas a vida a correr atrás de uma meta que te persegue?"
"Para quê pressa, se no final da corrida todos recebem o mesmo prémio?"
Mais uma vez sorriu e partiu,
Com sua bola debaixo do braço
Cantarolou rua abaixo.
Nunca mais vi tal pequeno...

B R

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