domingo, fevereiro 29, 2004

A essência

Hoje desvendei enigmas paradigmáticos,
Descobri a essência do meu ser
Proveniente do nada, do vazio,
Numa busca incessante
Pelo desconhecido;
Alicerçando peça sobre peça,
Montando um puzzle,
Que termina sempre inacabado
Apesar da incessante busca.
Resta-me esperar e lutar
Pelo maior número de peças
Componentes desta viagem,
À qual denominam de vida...

JR

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Pequeno sábio

O Pequeno jogava a bola
Do outro lado da rua,
com perícia de mestre
contornava adversários invisíveis.
O Pequeno brincava, cantava, sorria
Sozinho inventava multidões,
personagens da sua fantasia,
Amigos intergaláticos que só ele podia ver...
Sem pressas, sem muito pensar
A contraste de todos os que por ele passavam...
Parei e observei durante uns minutos,
Algo nele me era familiar,
Lembrara-me um miúdo que conheci,
Lembrava-me o miúdo que já fui.

De inocência malandra estampada no rosto,
aproximou-se...
"Queres jogar?"
Apesar de atrasado não declinei,
Jogamos durante horas,
também eu era agora um miúdo
sem pressas, sem muito pensar...
Por fim confessei que há muito não me sentia assim
Solto, leve, inocentemente feliz...
O pequeno olhou-me e sorriu,
Apenas me disse:
"Porque passas a vida a correr atrás de uma meta que te persegue?"
"Para quê pressa, se no final da corrida todos recebem o mesmo prémio?"
Mais uma vez sorriu e partiu,
Com sua bola debaixo do braço
Cantarolou rua abaixo.
Nunca mais vi tal pequeno...

B R

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Fim


Sou hoje fragmentos de uma máquina imperfeita a quem o tempo mostra os seus defeitos...

Acordei, abro os olhos pesadamente, como que num esforço atroz de quem não o queria fazer. Desejei com todas as minhas forças despertar num lugar em que a tua ubiquidade não fosse iminente, uma dimensão algures entre o perdido e o esquecido... deixado ao acaso e á mercê dos abutres que voam lá no alto....

Foi uma noite dificil... de sonhos confusos, de contos adulterados em que os finais estavam bem longe do "...e viveram felizes para sempre". Sinto-me esgotado e principalmente, morto por dentro, resisto a sucumbir a esta dor e tristeza, só não sei se por muito tempo...
Perco o controlo sobre as minhas emoções, oiço o compasso das lágrimas que me escorrem pelo rosto embatendo violentamente no chão, penso em ti, o compasso aumenta, em paralelo revejo todos os sonhos e planos que involuntariamente fiz para nós... planos que agoram caem por terra embebidos nas lágrimas que não consigo conter.
Rasgo memórias guardadas no album de recordações, lembranças de momentos que não voltam, suspensos por entre escassas brumas de felicidade...

Entro assim em processo de formatação, para se nascer de novo é preciso primeiro morrer, para recomeçar é preciso primeiro acabar...
Como me disseste um dia: "...os bons desenhos não se podem apagar...", tu és o meu bom desenho, ficarás guardada para sempre bem aqui, nesta pequena sala da minha alma, exposta apenas para mim, mas que encerro hoje para não mais abrir...

Formating EU: 21%.......

Please StandBy.............

B R

sábado, fevereiro 21, 2004

Reflexo

Sentado de costas para ti
Contemplei todo o teu ser apenas pelo reflexo.
Espelho tortuoso que insistia em me mostrar
Os teus traços, a tua imagem, o teu brilho...
Fingi não olhar, mas os meus olhos fitavam-te
Mesmo sem eu querer.
Sensação estranha percorria agora o meu corpo,
ora de alegria e jubilo por te ver,
ora de frustração sob a forma de uma única pergunta:
"Será que um dia te vou ter só para mim?"
Perguntei ao espelho se tal era possível,
Mas o silêncio gritou dentro de mim
Uma resposta que até agora nao dera...
Reparaste em mim, aproximaste-te...
A minha boca apenas queria bradar um pedido:
"Fica comigo esta noite..."
Nada...
não fui capaz.
O espelho troçava agora de mim,
Cruel e impiedoso
Reflectia as pegadas da tua ausência...

B R

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

( )

Estranha sensação de vazio...
Que tento preencher nesta folha,
Límpida, branca, lisa e pura.
Cuspo mil palavras secas
Para exprimir tamanha desilusão,
Que abana este meu mundo.
O tempo passa e a dor fica,
As pessoas morrem e eu fico,
E como sou apenas um moribundo,
A erosão do meu corpo já vai nos ossos;
Sou um simples esqueleto manietado
Pela morte, que à vida me quer prender...

JR

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Velocidade fatal sem rima

Percorre a cidade a colar ponteiro
Quer chegar aos pontos de luz que parecem inatingíveis...
Estão sempre a aparecer! Cada vez mais longe...
Sente-se numa nave espacial no universo,
So que na realidade pertence à última criação,
um abismo cheio de cabrões e otários
Um circo cheio de animais mal-cheirosos!
Numa curva mais fechada na conquista da luz
Sente pela última vez o amor; com ódio;
Confundido com o terror da queda.
"Até para praticar um crime isto parece falso"-pensou
Alguém lhe diria: "não o faças,vais estragar a tua vida"
Mas ele estava decidido a faze-lo e,
Mesmo antes de o fazer já se sentia um criminoso.
BANG! CRASH! CRASH! BANG!
Suicidou-se!!

("Boa noite. Bem - vindos ao telejornal. Pelas 9:00 de hoje ocorreu mais um acidente no IC19 possivelmente causado por excesso de velocidade. Não há testemunhas oculares e apenas houve uma vítima mortal de 20 anos.
Em declarações recentes Bibi afirmou que...")

VM

Diz-me porque não posso saber a verdade

Custa-me mais pensar que ela não existe
Estarei eu a viver uma falsidade?
Sei que tu também nunca a sentiste
Mas diz-me, porque não posso eu saber a verdade?

Se a verdade é dura, eu sou forte
Se a verdade está longe, eu sou forte
Se a verdade não existe, eu quero ser forte
Se a verdade não vier, que venha então a morte.

(Perguntas/Afirmações retóricas a dúvidas de difícil resposta.)

VM

terça-feira, fevereiro 17, 2004

O Homem do Capuz

Já sendo costume o homem do capuz passeava
E, por entre a multidão, a dedo escolhia quem matava

Aqueles que não se questionavam,
É certo, não morriam,
Mas aqueles que o faziam
Com certeza bem sofreriam.

Era impiedoso, a ninguém desculpava
Nem saber queria do que a pessoa pensava,
Contudo e no fundo
As pessoas já sabiam,
Mas nunca perceberiam
Que num dia desapareceriam

Até certa noite em que o homem do capuz para um espelho olhou
E logo de seguida se questionou,
Porque assim era e não de outra forma seria?
Errou! E agora, o que lhe aconteceria?

Como seria possível isto acontecer?
Mal o homem do capuz acaba de se aperceber
Que se tinha questionado
Logo ali em fumo se tinha transformado...

(Isto para dizer que o homem do capuz não morreu!
Pelo menos da minha cabeça ele não desapareceu
E o fumo..., eu nunca o vi
E ainda me me lembro daquilo que vivi.

Contudo até era bom que ele ainda matasse
Fazia com que eu nunca mais desesperasse)

VM

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

A vida de uma mente - Parte II

Já passando pela plaqueta, estava na "Morte",
Mente-morta por dúvidas perdidas
Questionava agora sua estranha sorte...
Morrer, não lhe trouxera tantas saídas

Assassinada por só ser mente
Por 3 sombras sem piedade,
Futuro a espera ainda mais demente
Extinguindo-se por certo na calamidade

Sombras alertam para ser consciente:

Sombra 1:
"Tendo tu já falecido pelas tuas manias intlectuais
Para quê vais criando mais crises espirituais?"

Sombra 2:
"Ò pobre mente porque não te negas?
Pensa no que fazes...: Porque te cegas?"

Sombra 3:
"Sendo tu agora sombra também,
Vem connosco ver quem do desfiladeiro vem."

Mente sombra agora, mas com pouco esclarecimento
Se com elas for poderá perceber seu falecimento!

Mente-sombra sem hesitação as analisa:
Mente-sombra: "Se eu vos acompanhar
Vós prometeis me explicar
Porque do desfiladeiro me retiraram
E logo ali, a minha vida me roubaram?"

Uma pausa... Tudo estava mudo.
À pergunta, as sombras não lhe deram resposta
"Como sempre" - Penou - "Onde está a resposta?!"
Com as sombras deambulou por uma força imposta...

Até avistar de novo o desfiladeiro da "vida"
Onde, com três sombras rodeada estava mais uma mente perdida,
Que...,
... Já passando pela plaqueta, estava na "Morte"...

VM

domingo, fevereiro 15, 2004

Encontro

Está uma noite gelada de Inverno,
Escura como breu e na loucura
Caminho sozinho por esta via láctea
Deserta de calor humano, que se chama rua
À procura de algo que nem eu próprio sei.
Volto a olhar para o céu e vejo a lua
Estendo-lhe os braços implorando por ajuda
Peço que me ilumine a vereda.
Sigo em frente, corto as gotículas de água
Em suspensão no ar,
Avisto um pequeno foco de luz,
É um verosímil corpo feminino
Com vestes brancas, finas de seda,
Tem um olhar brilhante, a tez pálida,
Esboça um sorriso singular, cheio de vida.
Entendo isto como um sinal e avanço,
Hipnotizado pelo seu delicioso olhar
Que a cada passo está mais remoto,
Até totalmente se eclipsar.
O frio entranha-se-me nos ossos,
E caminho novamente, na companhia da lua,
Agora em busca daquele olhar que me vidrou.

JR

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Vulnerável

Como é que fazes?
Como é que consegues?
Sim tu, sabes que é contigo que falo
Poderia erguer á minha volta a mais alta das muralhas
No mais recôndito lugar,
De um qualquer planeta
Numa qualquer galáxia
perdida na palma da tua mão...
Onde a unica ligação a este mundo
Era somente o meu pensamento
e o rádio que não pára de tocar a tua música...
Como é que fazes?
Em segundos me localizas
me invades e conquistas
me fazes ceder a tão desejado mas perigoso sentimento.
Mas o pior
É que nem ofereço resistência
Como um fraco guerreiro
me entrego sem luta, de bom grado...
Como é que consegues?
Elevas-me para lá das nuvens
Para lá da imaginação
Para um mundo só teu.
Um mundo que não me deixas entrar
Mas cuja porta encostada
Me desafia a espreitar
E me faz almejar cair em tal emboscada
Tolo sou quando finjo não te ver
quando engano os meus sentidos
e finjo que o teu aroma não me faz sonhar...

Como é que fazes?
Como é que consegues?

B R


terça-feira, fevereiro 10, 2004

Dupla Insónia

Três e trinta da madrugada,
Ai, esta maldita insónia,
Que teimosamente me atormenta;
Choro compulsivamente,
As lágrimas escoam-se-me pela face rosada
Num zigue-zague contínuo
Pelas curvas das minhas feições,
Trilhando, como eu, o caminho para o precipício,
Para onde este sentimento de cansaço vigente
Me empurra a grande velocidade...
Rapidamente vou perdendo altitude
Até que...
...abro os olhos, e vejo o meu quarto turvo,
Afinal tudo não passava de um pesadelo,
Corre-me pelas veias uma sensação de alívio;
Mas olhando para o relógio o tempo coincide
Fico perplexo, assustado, e questiono-me:
Será isto um indício?
Porque será que estava a chorar?
Que significado terá o precipício?
...
...
...
Passarão três horas, ainda não consegui dormir
Preocupado em arranjar respostas;
Enquanto esta insónia perdura...

JR

sábado, fevereiro 07, 2004

Deserto

Falsa sensação de alegria
esta que me acende e depois me deixa apagar
Hoje procurei no alcool algum conforto
Por momentos tentei esquecer tudo
Por momentos até resultou...
Mas agora que todos se foram
Só resto eu
Cansado, bêbado, irónicamente só
De volta ao meu deserto
Ao deserto em que me perdi
O mesmo que me quer matar
Esta imensurável vastidão de enigmas
que tento resolver
Sedento de amor, de esperança
Busco um oásis que se esconde
Por entre miragens de sonhos passados
Ressaca, dor, angustia....
Serei eu capaz?

B R

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Asfixia

Olho longinquamente pela janela
vejo o vazio da vida,
a complexidade do ser
que revela a relatividade
existente entre os humanos,
a incompreensão que me afecta
e fulmina toda a esperança;
a tristeza que me abraça
e sufoca a cada segundo que passa.
Espero que a ampulheta pare por uns instantes
para poder respirar um pouco
não consigo suportar esta dor imensurável,
preciso de falar urgentemente;
os nervos tomam conta de mim
palpitam na pele como vulcões na terra
desejosos de lançar a sua fúria;
contagia-me uma estranha ânsia de fugir
ao mundo real para longe
e poder dizer tudo, mesmo tudo,
o que, penso, sinto e imagino,
desabafar sem regras
mas....morri por asfixia...
e tudo morreu comigo.


JR

terça-feira, fevereiro 03, 2004

A vida de uma mente - Parte I

O encontro de três sombras
No começo do desfiladeiro.
Bem visível a tabuleta da "vida".
Persegue seu caminho numa calma aparente.

Uma inquietação disfarçada pelo sossego;
Um nervosismo disfarçado pela inquietação;
Um desespero disfarçado pelo nervosismo;
Uma queda provocada pelo desespero.

As três sombras teriam atestado:

Sombra 1:
"Uma queda eminente tu irás sofrer,
Quando ao atravessares o desfiladeiro te sentires viver.";

Sombra 2:
"Por quereres andar a um ritmo acelarado,
No fim do desfiladeiro tu serás condenado.";

Sombra 3:
"Quando te lembrares do medo que te estamos a dar,
A tabuleta da "morte" irás encontrar...".

Já sabendo do fim que o esperava
A pobre mente se terá matado
Sem sequer a tabuleta da "morte" ter avistado
Perguntou-se antes o porquê do seu destino anunciado,
E assim mais depressa morreu
Por três sombras ter irritado,
O encontro deu quatro sombras...

VM

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

O último adeus

Está tudo a ficar turvo, sinto-me a desvanecer
Virado com a cara para o chão vejo tudo ensanguentado
Ainda à pouco tempo sentia dor mas agora já não
Sinto o bater do meu coração a fraquejar segundo a segundo
Cada vez mais lento...
Até que, no último momento de consciência, penso em ti
Sim em ti... tu que me ignoraste, espezinhaste e por fim me mataste
Pensei no momento em que te conheci, no momento que te amei e no momento que te perdi.
E foi então, que não sei como, vi o teu rosto à minha frente, como se de um anjo tratasse
E com as poucas forças que me restava chorei.
Chorei não pelo que se passou entre nós, mas por tu não estares aqui para me despedir,
De te querer dizer um último adeus.
Mas não estás, ninguém está, e então como na vida e agora na morte fico sozinho,
Deitado num chão frio e ensanguentado com a alma despedaçada a esperar pela morte.

MC

Viajando a esta velocidade

Viajando a esta velocidade
Ganho uma dor nos ossos
Ou será por infelicidade?!
Que me doem os ossos?
Ai os meus ossos!!

Por cada segundo é um carro
Que por mim passa
Ou será que foi o charro
Que me fez esta desgraça?
Ai a minha desgraça!!

Viajando a esta velocidade
Vejo pessoas estranhas
São horrendas e numa obscenidade
Querem tirar-me as entranhas
Ai as minhas entranhas!!

VM